A única forma de combater um inimigo invisível e silencioso é assumir que ele está em todo o lado.
Num mundo em que esse inimigo existe, os sábios passam por paranóicos, e os racionais e moderados vivem muito pouco.
O inimigo invisível não tem face; por isso, é difícil odiá-lo apaixonadamente.
É difícil encontrar a motivação para combater todos os dias uma coisa sem braços e pernas, sem garras e presas.
Estamos habituados a travar as nossas guerras com armas e punhos, com gritos e palavras. Mas nada disso vale face ao inimigo sem braços nem pernas, sem garras e presas.
Um inimigo destes combate-se por privação.
Combate-se salgando os campos para ele não ter que comer.
Combate-se queimando as florestas, para ele não poder respirar.
A comida que este inimigo consome, e o ar que ele respira, somos nós.
A forma de o combater? Através da disciplina.
As vitórias são diárias, mas não satisfazem. A prevenção, o dia sem perder a batalha, não dá sensação de conquista.
Acerca de ganhar, nós percebemos. Um jogo em que o objectivo é não perder, isso é menos familiar.
A disciplina é a de saber que este é um jogo em que a única forma de ganhar…
É aguentar até ao final do jogo, sem perder.
Pintura: “A intercessão do Beato Bernardo Tolomeo pelo fim da praga em Siena” por Giuseppe Maria Crespi