“Inside” é um videojogo de proeza estilística invulgar. Uma paleta de cores reduzida dá vida -Vida cinzenta, escura e sóbria, ocasionalmente iluminada por luzes malignas, mas ainda assim vida! – a um mundo desconfortável, um mundo que pode ser ou não ser o nosso, que equilibra o familiar e o bizarro com a destreza de um malabarista veterano.
De facto, tanto o seu estilo visual com base num minimalismo estilizado, como a estranheza familiar do seu mundo, me deixaram ao longo de todo o jogo com a sensação de que estava a jogar o parente de um do meus jogos formadores, o “Another World.”

Também neste jogo, conduzimos uma personagem relativamente vulnerável através de um mundo que, apesar de muito invulgar – no caso de Another World, mais claramente alienígena do que o de Inside – apresenta ecos suficientes do nosso para que possamos traçar algumas assumpções acerca do que se passa e da situação em que nos encontramos. Por outro lado, mantêm-nos inquietos e despertos pois nunca sabemos que criatura ou armadilha estranha estará à nossa espera no ecrã seguinte.
Em Inside, no entanto, a personagem não ganha uma arma em parte alguma do jogo, e isso não é mau. Se por um lado senti falta dos picos de acção que pontuavam Another World sob a forma de tiroteios, também reconheço que esses sempre foram a parte mais fraca do jogo.
Inside é todo acerca de resolver enigmas físicos, acerca de descobrir a melhor maneira de manipular o ambiente para poder avançar da esquerda para a direita, até ao desfecho final. Isto faz dele um jogo muito mais acessível que Another World. Inside por vezes exige um pouco de ritmo e sincronização, mas nunca grandes reflexos – os desafios podem ser de execução física, mas a dificuldade é puramente cerebral.

O que não me agradou assim tanto em Inside foi a narrativa aberta, e mais uma vez, comparo e contrasto com o caso de Another World. Ambos os jogos contam a sua história sem uma única palavra. Cabe ao jogador compreendê-la com base nos acontecimentos e na observação do ambiente.
No entanto, em Another World, é óbvia a natureza geral do evento que despoletou a aventura, mesmo que não as especificidades. O final deixa a narrativa em aberto (pelo menos até à sequela) mas não deixa dúvidas acerca do que se está a passar.
Inside deixa muito mais à imaginação, um pouco demais para o meu gosto, e sim, aqui trata-se puramente de gosto. O inicio é completamente inexplicado, a motivação da personagem que controlamos, idem, e se no final se dão eventos com uma carga dramática acrescida, a natureza desses eventos mantém-se obscura. (Se bem que, admito, a cena final é relativamente satisfatória, como climax.)
A questão é que Another World deixa muita coisa aberta à interpretação do jogador, e isso agrada-me. Mas Inside não nos dá material suficiente para gerar uma interpretação, apenas especulação. Não há nada de mal nisso – ainda bem que há narrativas assim nos videojogos – mas não é algo que me agrade, e poderá também não agradar ao leitor.
Ainda assim, a experiência de jogar Inside foi agradável, e fez-me pensar que há realmente muito poucos jogos assim, jogos que continuem na linha desse clássico que foi o Another World. Espero que mais gente jogue Inside e, quem sabe, o sigam como inspiração.