É um clichê, a pessoa que vai fazer voluntariado para um país em desenvolvimento e quando volta, vive em gratidão pelo que tem.
Viver e trabalhar com pessoas que não têm suficiente para comer, que muitas vezes não têm acesso a água potável – esse contexto dá outra perspectiva ao que é “dificuldade.”
Mas esse é o mesmo mecanismo que ativamos quando nos comparamos com alguém que ganha menos que nós, que sabe menos que nós, que tem menos capacidade que nós.
Ambas as comparações ativam o mesmo mecanismo; no entanto, uma é vista com admiração; a outra, como insalubre.
A diferença é a “gratidão.” No primeiro parágrafo, usei a palavra gratidão para descrever a sensação que a voluntária tem. No terceiro, não atribuí um estado emocional que a comparação com quem tem menos suscita. Foi o cérebro do leitor que preencheu esse vazio.
Que palavra escolheste?
Pintura: Divas e Lazarus, por Leandro Bassano.