Se fossemos capazes de renunciar à nossa sageza, e de descartar a nossa sabedoria, serviríamos o povo cem vezes melhor.
Porque poucas coisas revoltam o povo mais do que sentir que os seus líderes o tratam de forma condescendente. Sabedoria decretada do topo da montanha é apenas outra forma de tirania.
Se fossemos capazes de renunciar à nossa benevolência, e de descartar a nossa justiça, o povo tornar-se-ia novamente filial e gentil.
Porque ninguém gosta de sentir o paternalismo das elites. Há uma resposta, uma contra-reacção, quando tentamos impôr compaixão com mão pesada. É a revolta contra o politicamente correcto.
Se fossemos capazes de renunciar aos nossos artifícios engenhosos, e de descartar as nossas intrigas em prol do lucro, não haveriam ladrões nem assaltantes.
A maior parte das pessoas sentem-se felizes com muito pouco. Comida na mesa, alguns confortos, dinheiro suficiente para manter os credores longe, e um mais pouco para pôr de parte para dias difíceis.
Há pessoas que roubam por ganância, é verdade; mas muitos roubam por revolta, porque vêm pessoas a viver como os deuses do Olimpo – fantasias que lhes são vendidas pelas revistas e pela televisão, artimanhas urdidas por quem enriquece à conta de fazer as pessoas desejar luxos de que não precisam para ser felizes.
Pois uma visão simples, e planos claros e verdadeiros,
Fins egoístas, e muita luxúria evitariam.
Um líder deve confiar no bem dos que o rodeiam, sem cair na ingenuidade. A paranóia, o assumir o pior dos outros, o suportá-los meramente por que precisamos deles, mas em constante desconfiança, esse é o caminho de Nero.
Nero, a que ninguém queria mal, a que foi deixado um legado de sábios conselheiros para o orientar, e que um a um, todos os seus aliados a sua desconfiança voltou contra si, até que a sua profecia de que seria assassinado se auto-concretizou. A Morte aguarda em Samara.
O líder deve estar disposto a assumir o melhor dos outros, sem, claro está, se deixar desprotegido. Confia, (mas verifica).